sábado, 26 de março de 2011

SINTOMAS NOTURNOS



SINTOMAS NOTURNOS

A noite dorme
Silencia o canto
O Mar se encolhe
Eu, oceano

Meus cantos vazios
Enchem-se de mim
Estou no fim
E não cheguei

A noite dorme
Eu apenas deito
Com os meus ecos

Ivone Alves Sol

domingo, 20 de março de 2011

Detrás da Moldura



DETRÁS DA MOLDURA

Não estou emoldurada no que se vê.
Quem haverá de entender os mistérios?
Se, nem eu, sei me dizer
E, quando digo, não me revelo.

Sou o que orvalha atrás dos óculos,
A chuva que o tempo não prevê.
- Não me vejam no notório,
Estou no que deixam de ler.

Encontro-me no ponto esquecido
Ao esboçar o meu perfil;
No texto não redigido,
No parêntese que se abriu.

Fecho aspas e abro o leque,
Linko a minha introspecção...
As reticências se repetem,
Quando há interrogação.

Ivone Alves Sol



quinta-feira, 17 de março de 2011

DIA DA POESIA _ 14 DE MARÇO

 

 POESIANDO

Na voz de Castro Alves
O clamor da liberdade
O Pessoa a usou
Pra confundir a realidade
Às vezes um tanto insana
Nos poemas do Quintana
O Vinícius lhe deu o tom
Do infinito até o fim
Tuas cores estão nos sons
Das letras do Jobim

São tantos os poetas
E tantos são os leitores
Quem escreve traduz em letras
Suas alacridades e dores
Quem ler dá à poesia
Os sentidos e as cores!

Sigo eu poesiando
O que a alma processa
Muitas vezes calado
Meu coração se expressa
Descanso em versos mansos
Minhas inquietudes e nostalgias...
Essência revelada em poemas
E sentida em poesias!

Ivone Alves SOL

*****
POESIA

Afeiçôo-me dessa arte que me cria
Que me inventa da lágrima solitária
Que, sem expressão, obsta a homília
E, diz-me viva, numa tumba minada

Posto que eu seja a arte do que crio
Pois a vida vive à parte – e parte
Enquanto a olho sem vê-la – arredio
Da poesia que em meu túmulo nasce

Suscito nos versos que crescem
E dão corpo a minh’alma esguia
Visto que neles a vida acontece
E, eu só existo, quando em poesia

Ivone Alves SOL




           
          A poesia é comemorada no dia14 de março, em homenagem ao grande poeta baiano, Antônio Frederico de Castro Alves, pois esta é a data de seu aniversário.

         Considerado o poeta dos escravos, por sua atuação em prol da abolição, Castro Alves faz jus a todas as homenagens. Sua poesia é questionadora, libertária e de grande cunho social. Navio Negreiro é sua obra de maior repercussão.

        A pesar de a poesia estar presente em nossas vidas todos os dias, seja por meio de poemas, canções ou imagens, essa data é especial, pois nos oportuniza a explorar esse campo da literatura, que emociona e diverte.


Parabéns a todos que fazem e que sentem a poesia!
Salve, salve!  Castro Alves!!!


CONSTANTES INCONSTÂNCIAS




CONSTANTES INCONSTÂNCIAS

Hoje degusto sabor de manhã
Brinco de céu em meu telhado
Sou de minha vida, a guardiã
Mas não detenho meu passado

Passam os dias inacabados
Dentro das horas que segui
São todas peças do mosaico
Que ainda estou a construir

O tempo é presente constante
E, meu instante, não espera
O que me acelera é mutante

No calhar das manhãs oscilantes
Nem sempre há sol de primavera
E, o que se revela, é inconstante

Ivone Alves Sol

Deixe-me estAR

 

Deixe-me estAR

Eu sou ar em movimento
- Feito brisa de mar...
Sou do tempo, o relento,
Invento-me, sem me criar.

Sou assento ao pôr o sol
E se estou só, eu sou momento.
Eu só me rendo ao arrebol,
Pois estou sempre em nascimento.

Se eu crescer, deixe-me estar!
Estando, eu não preciso ser.
Pois quando sou, sou como ar,
Que ateia vida e ninguém vê.

Estou no canto sem regência,
Na partitura nunca lida...
Eu sou, em parte, existência,
- Mas estou vida.

Sou risca oculta ao traçar o tempo
- Sou vista, apenas, vivendo!

Ivone Alves Sol

LEMBRANÇA PUERIL



LEMBRANÇA PUERIL

Hoje sinto tatear a minha criança
Passo a passo na minha memória
Seus rastros mitigados na história
Guardam uma estilha de lembrança

E, como dança em montanha russa,
Minha alma se curva sob meu olhar
E se algo em mim tiver que mudar
Que não torne minha criança adulta

Ainda a quero brincando nas pedras
Que vivo a juntar por onde tropeço
Quero-a nas minhas cores de festas

Ah, minha criança, fui tão feliz em ti
Estou te perdendo e nem sei se cresço
Ao lembrar-te, não retratas mais a mim

Ivone Alves Sol


VENTO ZONZO


VENTO ZONZO
 
Não sei se existem anjos,
Nunca vi, nem os toquei.
Prefiro esse vento zonzo,
Esse sopro leve, sem lei...

Permito-me tocar o céu,
Até onde os olhos vão.
Depois disso, são véus,
Maquiados de ilusão.

Não sei quem é Deus,
Mas... Eu O sinto
- De um jeito alheio,
Sem que eu seja recinto.

Como desvendar o invisível,
Se nem me avisto, vendo-o?
Como é possível senti-Lo,
Se não o compreendo...?

Penso ser melhor poetizá-Lo
- Pintá-Lo de fantasias...
A ter que profaná-Lo,
Como tintas de heresias.

Eu jamais vi anjos,
Nem Deus...
Mas, podem ser
Esse vento zonzo,
Que balança meus templos ateus.

Ivone Alves Sol 

O(h)linda Recife



O(h)linda Recife

Minh’alma dança nas águas de Recife
Sob a luz das pontes que me levam de mim
Ah, esse sol carmesim que nada livre
Ao despedir-se do dia sem lhe pôr o fim

Parte de mim se embevece e parte
Envolta a uma saudade que paralisa
Deixando minha alma em alarde
Onde a outra parte se mobiliza

A noite advêm – O(h)linda!
Pisarei os céus de teu chão alcantilado
Olharei com teus olhos a minha sina
Acalantarei a saudade em teus braços

E de meus passos tu serás a dança
Abrirás as alas do que desconheço
E, se me atrevo, não é arrogância
É minha ânsia em dançar teu frevo.

Ivone Alves Sol
Recife PE
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Especial dia das Mulheres

Versões Ivone Alves Sol


NAS TANTAS MULHERES

Sou poesia tecida com fios de alva
A se esparzir nos versos dos poetas
Que contam sem dizer em palavras
O que guardo nas linhas secretas

Sou o que aparece na oscitação do dia
Cores vibrantes retidas no crepúsculo
O pulso compulsório da calmaria
Que contorna os relevos dos tumultos

Sou rastro do vento que varre as flores
E os odores das pétalas aladas no ar
Sou o que há entre o som e os tambores
Música suave e orquestra a acendrar

Sou o rosto da noite descortinada
Brilho ostentado nas vestes lunares
Mas, é nos lares, que sou aclamada
E às vezes arquivada em tácitos altares.

Sou a fantasia sobre a cama
E o que reclama um lugar
Sou o conteúdo da fragrância
Que unge a noite ao se deitar

Sou escultor e sou a arte
E nas tantas que sou
Eu sou mulher
– Sem disfarce.

Ivone Alves Sol
   Recife PE

Meu carinho a todas as mulheres, que fazem de cada dia, um dia especial!


*****

ÚNICA EM TANTAS

Descubro-me sonho
E me ponho a pensar em ser
A querer o ignorado na manhã
Que nasce antes do dia
A melodia da canção tácita
No desabrochar das acácias
Sobre a relva vazia

Descubro-me sendo
E sonho em como eu seria
Se eu não fosse...
Se não houvesse tantas em mim
Sonhando em ser eu...

Descubro-me tantas
E quero-me única
Em cada uma delas
Para que todas me deixem ser eu
Nos sonhos que me fazem ser – o que estou

Ivone Alves Sol

*****

TANTAS EM MIM 

(Alusivo ao Dia Mulher)


Como definir o ser mulher,
Se há tantas em um só “ser”?
De tanto sê-las, não sei dizer o que sou...
De tanto vivê-las, vivo o que delas em mim cultivou.
Se uma delas me dilacera o coração,
A outra me equilibra com a razão.
Ainda existem aquelas
Que se perdem na multidão...
E tantas outras me deixam na mão!
Há uma que escreve o que a alma dita,
Outra que grita estando contida.
Às vezes se cruzam na mesma estação,
Outras vezes colidem na contramão.
Pobre mulher emoção...
Encontra-se e se perde na imaginação!
- Há uma que chama a minha atenção:
Aquela que a todas dá as mãos.
Pergunto pra mim
Se essa sou eu,
E o coração foi quem respondeu:
- Com tantas mulheres dentro de ti,
Não seria tu, delas, o apogeu?

Ivone Alves SOL

***** 


AMBIGUIDADE 

Tanto eu sei de mim,
Que me abisma saber
Quão pouco sei!
Quanto mais me aprofundo
E me descubro...
Avisto-me longe.
Não estou no que vejo,
Ao olhar fora de mim.
E, quando dentro, eu revejo,
Não estou mais aqui.
O tempo me pisa e vai
Eu... Nem fico, nem vou...
Até que as águas de meus ais
Desfaçam os rastros.

Ivone Alves Sol

 *****

TRAÇOS INACABADOS

Enfada-me o embaralhar das letras
O tilintar dos fonemas desafinados
E atados em dedos – sem destreza
Acho ser, de tristeza, que elas falam

Enleio-me nos traços inacabados
Num quadro pintado sem colorir
Pois de mim, só tenho o que calo
Nos calos da voz furtada de mim

Queria trocar essas letras por falas
Que traduzissem meus sentimentos
Que meus dedos mostrassem a cara
Do que vive no mundo de dentro

Mas, os meus fonemas são vazios
Espargem arredios, ao que profiro
Inquiro em que tom Deus me ouviu
Pois, nem Suas réplicas, eu decifro

Ivone Alves Sol