segunda-feira, 30 de maio de 2011

MINHA LEI


MINHA LEI

Eu leio nos olhos que ainda não vi
Uma cor de jardim com gotas dourada
- Lua ornada em lençol de cetim
Um olhar a luzir de madrugada

Eu sei que ele existe só dentro de mim
Também sou assim – não estou em nada
Tinjo minh’alva de tom carmesim
Digo sim sem saber a resposta exata

Não faço errata pedindo desculpa
Não é minha culpa se a vida mentiu
Eu vivo sutil no que me açula
Refuto a censura em palavra gentil

Eu gosto do sal no mar que criei
É minha lei mergulhar no insano
Olhando nos olhos que imaginei
Em parte me sei, noutra m’engano

Ivone Alves Sol




quarta-feira, 25 de maio de 2011

FORA DE MIM


FORA DE MIM

Hoje eu toco a minh’alma
Tenho-a em minhas mãos
- Tão única em ser várias
Tão rara em meus sãos...

Meu corpo é vão e passa
Meu peito vaza nos olhos
Minh’alma contrai, dilata...
O cerne escapa nos poros

Imploro abrigo em meu eu
Está sem ouvidos meu sim
Minh’alma sem apogeu
Deixa-me fora de mim

Ivone Alves Sol

segunda-feira, 23 de maio de 2011

(RE)INVENTANDO



(RE)INVENTANDO
 
Não sei se o que sinto é sentimento
Ou se é o pensamento me açulando
Às vezes sinto que sou o que invento
E até meu pensamento sou eu estando

Estando, eu não preciso ser
Viver é chuva de vento
Corre ao relento e no decorrer
Fica a mercê de um gesto do tempo

Reinvento-me nas sombras retidas
D'uma efígie distorcida feita de ar
Teço-me com fios de brisa
É minha sina refazer meu estar

Ivone Alves Sol



domingo, 22 de maio de 2011

CÉLULA DE DEUS



CÉLULA DE DEUS

Gosto de me pensar célula de Deus
- Não por ter sangue divino
Mas por assemelhar ao que me é ateu
E saber que “tem eu” no que nunca avisto

Do que sei, eu pouco compreendo
Mas o que invento, parece comigo
Dou sentido e chance ao pequeno
Sem apequenar o que eu preciso

Muito do que digo eu não escuto
É abstruso – se perde na cadência
E o pouco que ouço, eu reluto
- Não me faz referência

Prefiro meu silêncio incólume,
Meu pensamento absorto...
Gosto andar sem toques
Sem norte, sem porto...

Gosto de estar no que nunca fui
Quiçá o ser “sem eira nem beira”
Estando no que a alma intui
Avisto-me, sem que eu esteja.

Ivone Alves Sol


segunda-feira, 2 de maio de 2011

NUA



Nua

Hoje me despi do estar para ser eu.
Espantei-me, ao me vê como sou...
Faz tanto tempo que me cubro de alacridade,
Que nem percebi as quimeras em meu sorriso.
Era tanta felicidade tingida de anil,
Tantas verdades criadas de vento!
Hoje, ao relento, o chão se abriu...
Virei rio de semi-árido entre pedras e gravetos,
Que leva o mato seco – e seca-se!
Suspiro gotas de Mar, e hiberno.
Por que meu corpo é suor
E meus olhos, oceano.
Hoje eu não me engano...
Profano os deuses que me iludiram
-Todos sumiram!
Fiquei só, com tantas de mim...
Ah, eu não sabia que eu era assim!
Por tanto tempo eu relutei me saber,
Quantas vezes eu me vi sem me crer...
Hoje estou nua,
Rasguei a utopia,
Laqueei as asas...
Mas a realidade é dura
E dói,
A verdade é turva
E corrói...
Não aprendi a ser – sem nós.
Desaprendi a viver no singular,
Não sei andar em caminho de uma mão...
Estou no chão sem saber onde pisar,
Não tenho lugar fora da ilusão!

Ivone Alves Sol